

Residências
Residências/casas/moradas/cabanas/abrigo : Arquitetura para ser vivida
“Todas as minhas casas têm a ver com os operários e o meu diálogo com eles”
Sergio Bernardes
Bernardes projeta a primeira residência aos 15 anos (1934) para uns amigos de seus pais. Mas é a partir dos anos 1950 com a demanda crescente de um mercado de casas para uma clientela que se identifica com um estilo de vida moderno e urbano que a inventividade de Bernardes vai será requisitada e ganha visibilidade com importantes publicações e prêmios. Ele comenta que passa a projetar uma casa por dia, sendo todas diferentes entre si. Nesse repertório variado, algumas se tornaram “Casas icônicas” por inovarem e transformarem o conceito de morar. Vale ressaltar a importância dada ao “canteiro de obras” que caracteriza a experimentação que Bernardes desenvolve em diferentes escalas na sua arquitetura, como ele diz : “cria e desenvolve seus projetos como invenções”.
Residência Lota Macedo Soares
Samambaia, Petrópolis, RJ
(1951)
Essa residência se tornou icônica e reveladora do talento e da inovação de Bernardes. Foi a primeira residência em estrutura metálica construída no Brasil e recebeu o prêmio de melhor projeto de arquiteto de menos de 40 anos na Bienal de São Paulo de 1954. Também contribui para a sua mitologia, o fato da proprietária, Lota Macedo Soares, urbanista autodidata (foi uma das idealizadoras do Parque do Aterro do Flamengo) ser uma mulher de vanguarda que nos anos 1950 assumiu um casamento homossexual com a poetisa americana Elisabeth Bishop que tem poemas escritos sobre a casa.
Residência do Arquiteto,
Av. Niemeyer, Rio de Janeiro
(1960-1961)
Uma “casa-paisagem”
Foi na maior simplicidade e invenção que Bernardes construiu a sua “casa-paisagem” numa ponta rochosa dando para o mar. Primeiro “inventou” o terreno, numa localização que foi escolha e sugestão sua como forma de pagamento pelo condomínio que havia projetado para o local. Depois começou a desenhar os “muros”, feitos de pedra autoportante que não eram muros e sim a estrutura da construção integrada na paisagem. Sua circulação se dá intercalando espaços abertos de pátios, varandas e terraços com espaços fechados e íntimos. A casa toda é uma aula sobre a sensibilidade da arquitetura ligada à paisagem. Os materiais utilizados foram conseguidos com os fornecedores-parceiros e também inventados por ele.
INOVAÇÕES
Telhas capa e canal : Conceito de telha autoportante com resistência suficiente para cobrir vãos maiores que os habituais, incluindo longos beirais sem a necessidade de suporte ou estrutura. A “invenção” consistia na combinação de tubos de fibrocimento de 10 e 20 centímetro de diâmetro por 4 metros de comprimento, utilizados em geral em ligações de água e esgoto e que eram serrados ao meio ao longo do comprimento, sendo a metade do tubo de 20cm funcionava com calha e a de 10 cm como capa.
Tijolo cubo : “Esse nada mais é do que um cobogó, elemento muito utilizado na arquitetura moderna, mas sendo equilátero, permitiam duas formas de montagem, com a face cega aparente ou aberto como um elemento vazado.
Observação final : As experimentações e invenções que fizeram parte desse projeto com a utilização de vários elementos pré-fabricados e deixados aparentes ajudou a difundir no Brasil a indústria dos pré-moldados de concreto.
Residência
Willian Khoury
Alto da Tijuca, Rio de Janeiro, 1981-1995
“O Palácio dos Reflexos”
A receptividade e o investimento desse cliente na experimentação de longa duração do canteiro de obras de Sergio, faz dessa casa no ambiente cercado de mata atlântica, ser considerada a sua “maior experiência no campo da estimulação dos sentidos”. Durante um período de quatorze anos, com algumas interrupções, o arquiteto pode se dedicar a desenvolver tudo nesta obra, da estrutura metálica em escala industrial aos mínimos detalhes, do mobiliário à maçaneta, portas, redários e muros acústicos...
Imagens: Acervo Sergio Bernardes sob custódia NPD/FAU/UFRJ